O desempenho do futebol feminino brasileiro nas olimpíadas de Paris
por Matheus Oliveira | por Beatriz Ghedini
O futebol feminino do Brasil sempre é uma grande atração nas Olimpíadas, e muitas vezes aparece como postulante à conquista de uma medalha. Afinal, temos um currículo realmente interessante, onde conquistamos a prata nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008. Mas lá se vão 16 anos desde a última conquista, diversas tentativas e muitas frustrações. No entanto, será que o desempenho da Seleção de Futebol Feminino do Brasil é frustrante nas Olimpíadas de Paris 2024?
Antes de qualquer análise, é importante esclarecer que sabemos que ainda falta investimento no futebol feminino. O nível de suporte dado para a categoria no Brasil, ainda que tenha evoluído, está longe de ser o ideal. Ciente de todas estas questões, vamos analisar a relação entre as expectativas geradas e a realidade, realizando uma análise de quem busca parâmetros, comportamentos e padrões antes de realizar uma aposta. Acompanhe nossas previsões das Olimpíadas de 2024.
Fim da era Pia Sundhage
Antes de chegar a este ciclo olímpico, temos que destacar que o Brasil está em uma mudança de ciclo, com a saída da treinadora sueca Pia Sundhage, que comandou a equipe de 2019 até 2023. É interessante notar que Pia veio para o Brasil para implementar metodologias e, principalmente, uma cultura de futebol vencedor. Trata-se mais de alinhar as expectativas das jogadoras e ir além do "vamos tentar o nosso melhor", buscando sempre igualar os jogos em questões táticas e técnicas, criando alternativas que sejam adaptáveis às adversárias e explorando o melhor potencial das nossas jogadoras.
Realizando uma comparação com o futebol masculino, trata-se de um trabalho muito semelhante ao realizado pelo técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari, que, após se sagrar como vitorioso no futebol de clubes e conquistar uma Copa do Mundo com o Brasil, foi comandar a equipe de Portugal por 5 anos, criando uma cultura vencedora no país, elevando o nível de disputa da seleção portuguesa para além dos jogadores, mas aplicando uma metodologia para o jogo coletivo, criando constância e cultura.
Ou seja, ainda que Pia seja criticada pela sua passagem no comando da seleção brasileira, ela deixou um legado interessante, onde até mesmo na derrota na última partida da equipe nas Olimpíadas de Paris, contra a forte equipe da Espanha, soubemos adotar uma postura onde a análise feita foi que não poderíamos fazer um jogo franco e deveríamos apostar em uma forte defesa e explorar a velocidade. O resultado não foi positivo, mas a metodologia e cultura estão presentes, e alguns fatores devem permanecer, independente dos resultados.
Início do ciclo Arthur Elias
O técnico Arthur Elias é um comandante novo, com apenas 42 anos, e que possui uma carreira vitoriosa no Brasil comandando a equipe feminina do Corinthians de 2016 a 2023. Arthur assumiu a seleção brasileira em setembro de 2023, ou seja, há menos de um ano. Após alguns amistosos, foi lançado para a disputa da Gold Cup da Concacaf e, novamente, mais uma rodada de amistosos antes da disputa das Olimpíadas.
O comandante da seleção brasileira possui uma postura de comando bem clara, implementando uma defesa forte e segura, frustrando e desgastando os adversários, para então buscar jogadas rápidas de transição. Grande parte das equipes montadas por Arthur Elias contam com essa proposta de jogo, que é muito interessante e apresenta bons resultados, mas acima de tudo, precisa de muito entrosamento.
O Brasil ainda é um time em começo de um novo ciclo. Algumas jogadoras foram convocadas e outras ficaram de fora justamente para criar essa nova metodologia do comandante, que precisa de mais tempo para dar resultado.
Jogos do Brasil nas Olimíadas de Paris 2024
Vitória de 1 a 0 contra a Nigéria
O Brasil estreou nas Olimpíadas com a vitória de 1 a 0 frente à equipe da Nigéria, com um gol da atacante Gabi Nunes aos 37 minutos de jogo, após receber uma assistência da Marta. A partida foi marcada por uma grande atuação da defesa da equipe, em especial da goleira Lorena, que foi a melhor em campo, além da atuação sólida da dupla de zaga formada por Rafaelle e Tarciane.
A proposta de jogo do Brasil, apostando em uma forte defesa, funcionou muito bem, mas demonstrou duas fragilidades da equipe que seriam exploradas na próxima partida: a dificuldade em gerar oportunidades nas jogadas de contra-ataque, pois acabou por ficar com a bola a maior parte do jogo, e um poder de marcação fraco no meio de campo, sobrecarregando o trabalho da defesa.
Derrota de 2 a 1 contra o Japão
O Brasil fez um primeiro tempo dominante contra o Japão, mantendo a posse de bola em boa parte do primeiro tempo, mas perdendo totalmente o controle da partida no final da primeira etapa, dependendo até mesmo de uma defesa de pênalti da Lorena para não ir para o intervalo perdendo a partida. No segundo tempo, Jheniffer marcou o gol do Brasil aos 56 minutos após receber uma assistência da Ludmila, mas o time não foi capaz de segurar o placar, com o Japão igualando o marcador de pênalti com 2 minutos da prorrogação e virando o jogo logo em seguida, aos 96 minutos de jogo, com um gol de Momoko Tanikawa, que tinha entrado na partida minutos antes.
Devido à lesão da lateral Tamires na partida contra a Nigéria, o Brasil adotou uma formação diferente para o jogo contra o Japão, com 3-4-3, onde ainda prevaleceram os mesmos problemas: falta de criação de oportunidades claras de gol e sobrecarga no sistema defensivo devido à falta de marcação no meio de campo.
Derrota de 2 a 0 contra a Espanha
Na última partida, tivemos uma postura extremamente defensiva, adaptando-se à grande força de ataque da equipe espanhola, com uma formação montada no 5-4-1, com a Duda Sampaio voltando à equipe para oferecer mais poder de marcação ao meio de campo. Algo que funcionou, mas não foi o suficiente, sobrecarregando a defesa mais uma vez, com a goleira Lorena e a zagueira Tarciane sendo, mais uma vez, o destaque brasileiro. No entanto, o que já estava difícil ficou ainda pior após a expulsão da Marta na prorrogação do primeiro tempo e depois que Antônia acabou se lesionando e deixando o campo após o Brasil ter realizado todas as substituições, ficando assim com duas jogadoras a menos. Os gols da Espanha ocorreram aos 68 minutos e aos 17 da prorrogação, marcados por Athenea del Castillo e Alexia Putellas, respectivamente.
Mais uma vez, a proposta de jogo brasileira de montar uma forte defesa apresentou as mesmas falhas: falta de poder de marcação e dificuldade na criação de jogadas de transição.
Análise das dificuldades do Brasil nas Olimpíadas
O Brasil carece de uma ou duas peças que tornem o padrão de jogo proposto pelo técnico Arthur Elias possível e efetivo: jogadoras com um grande poder de marcação no meio de campo, que sejam capazes de gerar pressão nas adversárias em uma marcação mais distante, buscando a recuperação da bola, e também capazes da distribuição de jogo.
Na parte ofensiva, a equipe brasileira tem errado no último passe na hora de encontrar uma jogadora melhor posicionada, gerando oportunidades que são apenas mais travadas e não tão claras.
Atualmente, o Brasil não parece dispor de jogadoras que sejam capazes de realizar essa função, restando duas alternativas: ou muda a proposta de jogo, algo que não parece plausível neste momento, ou alguma jogadora terá de ser convocada ou se adaptar à função de marcação e distribuição de jogadas de forma mais eficiente.
Classificação das quartas de final
Ainda que o Brasil tenha perdido duas partidas e marcado apenas dois gols na fase de grupos, a equipe se classificou para as quartas de final dos Jogos Olímpicos graças a uma combinação de resultados, alcançando a posição de terceiro melhor colocado.
Na próxima etapa, enfrentaremos as anfitriãs da França, que possuem uma defesa muito forte com a experiente zagueira Wendie Renard, além de um grande poder de finalização na centroavante Marie-Antoinette Katoto. No entanto, a análise completa da partida você confere no palpite dos nossos especialistas, que apontaram as melhores odds.